Dubladores japoneses pedem regras contra uso não autorizado de IA
Dubladores japoneses exigem regulamentação para impedir o uso não autorizado de vozes geradas por IA, em defesa dos direitos dos artistas
Em Tóquio, nesta quarta-feira (13), três das principais entidades do setor de dublagem do Japão realizaram uma coletiva de imprensa para exigir que o uso de vozes de dubladores geradas por inteligência artificial (IA) seja condicionado à autorização prévia dos profissionais. Representando dubladores, a União Japonesa de Atores, a Associação Japonesa de Gestores de Talentos e o Conselho Japonês de Empresas de Dublagem declararam que vozes criadas por IA devem ser identificadas e que o uso sem permissão configura uma violação dos direitos dos artistas.
As organizações alertaram para o aumento de conteúdos não autorizados, como canções e falas de personagens de anime reproduzidas com vozes de dubladores simuladas por IA, que são posteriormente divulgadas e comercializadas na internet. A coletiva teve como objetivo central a defesa de regras claras que preservem os direitos dos dubladores e restrinjam o uso de IA em produções culturais, especialmente nas dublagens de animes e filmes.
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A importância da autorização para uso de vozes com IA
Em uma declaração conjunta, as entidades destacaram a necessidade de regulamentação do uso de IA generativa com vozes de dubladores. A União Japonesa de Atores e suas parceiras defendem que qualquer utilização de áudio gerado com tecnologia IA seja informada ao público e que a atuação permaneça um campo exclusivo para humanos, sem substituição por sistemas artificiais. Mitsuo Ikezumi, vice-diretor da União Japonesa de Atores, enfatizou que a expansão do uso de IA coloca em risco o desenvolvimento de habilidades artísticas, alertando para os prejuízos que a tecnologia pode gerar na área.
Ikezumi ressaltou que a regulamentação é necessária para que profissionais possam coexistir com a IA de forma adequada e transparente. O diretor-executivo da União Japonesa de Atores, Bin Shimada, alertou para o atraso do Japão em regulamentar o uso de IA em comparação a outros países, onde medidas de proteção aos direitos dos dubladores avançam. Shimada destacou que a ausência de uma regulamentação clara ameaça a cultura e os direitos de atuação no país, reforçando a importância de uma discussão que permita à indústria japonesa adaptar-se ao uso ético da IA.
Segundo especialistas, um dos desafios no Japão é a ausência de uma legislação específica que proteja a “voz” como um bem de propriedade intelectual. O advogado Koutarou Tanabe, especialista em direitos relacionados à IA, explica que o conceito de “direitos sobre a voz” ainda não está formalmente estabelecido, e sugere a criação de contratos específicos entre dubladores e empresas para assegurar o uso ético da tecnologia.
Aumento de casos de uso não autorizado de vozes de dubladores japoneses
A União Japonesa de Atores conduziu uma pesquisa, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, que revelou pelo menos 267 casos de uso não autorizado de vozes de dubladores em vídeos e áudios reproduzidos com IA. Esses “AI covers” incluem vozes semelhantes às de personagens populares cantando músicas, sendo amplamente compartilhados nas redes sociais. Em resposta a esse cenário, dubladores voluntários, como Hiroaki Yamada e Yuki Kaji, lançaram a campanha “NOMORE IA Não Autorizada”, para conscientizar sobre o problema. A iniciativa busca alertar o público e pressionar pela criação de políticas que protejam os profissionais, com a divulgação de vídeos educativos que abordam os riscos do uso indiscriminado da tecnologia IA para a atuação.
Em contraste com o uso não autorizado, algumas empresas japonesas começam a explorar parcerias com dubladores para o desenvolvimento de serviços de IA autorizados. Uma startup, em colaboração com agências de dublagem, lançou recentemente um serviço que converte as vozes dos dubladores para outros idiomas. Esse sistema permite que empresas utilizem a voz de dubladores para assistentes de voz e anúncios, com remuneração proporcional ao uso, sem participação em dublagens de obras audiovisuais. A agência de dublagem Aoni Production, parceira do projeto, destacou que a IA é vista como uma ferramenta para expandir o alcance das vozes dos artistas de forma ética, garantindo que os direitos dos dubladores sejam respeitados e que a atuação principal permaneça realizada por humanos.
Foto Destaque: membros de três organizações da indústria japonesa. Reprodução/Ryutaro Nishimoto