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Governo coreano diz que Putin vai visitar a Coreia do Norte em breve

Putin visitará o país , segundo os observadores, visando elevar a cooperação militar ao revisar o tratado existente assinado em 2000

Nessa quarta-feira(12), o gabinete presidencial do governo coreano disse que o presidente russo, Vladimir Putin, tem a sua primeira visita marcada à Coreia do Norte em 24 anos, durante a visita de estado do presidente Yoon Suk Yeol ao Cazaquistão. A viagem, cuja é interpretada pelos observadores como um momento chave para reforçar a cooperação militar e de segurança entre Moscovo e Pyongyang em meio à guerra em curso na Ucrânia e outras dinâmicas geopolíticas em mudança, ocorrerá dentro de alguns dias, confirmou um alto funcionário presidencial sul-coreano.

Além disso, Putin está de malas prontas para a próxima viagem, em meio a mudanças geopolíticas substanciais que ocorrem desde a sua viagem inicial a Pyongyang em Julho de 2000. Sendo assim, um período caracterizado pela cooperação pós-Guerra Fria e pela reconciliação inter-coreana. Ademais, o enconto entre Putin e o líder norte-coreano Kim Jong-un preparará respostas às exigências da dinâmica em evolução, segundo os observadores.


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Presidente da Rússia, Vladimir Putin, aperta a mão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Reprodução/Mikhail Metzel / AFP

Visita histórica: Revisão do tratado

De acordo com especialistas, o foco principal da cimeira Putin-Kim seria reforçar a sua cooperação militar e de segurança. Sendo feito através da revisão do Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação, originalmente assinado em Fevereiro de 2000, cerca de cinco meses antes da primeira reunião do Presidente Putin. O tratado de 2000 marcou uma mudança no foco da sua parceria para a cooperação económica. Portanto, removeu a cláusula sobre a intervenção militar automática presente no Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua de 1961. Contudo, os desenvolvimentos atuais sugerem uma necessidade renovada de nivelar a cooperação militar e de segurança entre Moscovo e Pyongyang.

Segundo um comunicado de imprensa, emitido pelo gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, dias após a visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros, a Moscovo, em Janeiro deste ano, a Coreia do Norte e a Rússia chegaram a um consenso e a um acordo satisfatório sobre questões práticas. Afim de estabelecer relações bilaterais numa nova base jurídica, visando o desenvolvimento estratégico e a expansão abrangente.


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O presidente russo, Vladimir Putin, faz um discurso em uma sessão plenária do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF) em São Petersburgo. Reprodução/Reuters

Novo Tratado Rússia-Coreia do Norte

Portanto, segundo análise de Lim Eul-chul, professor de estudos norte-coreanos, existe agora a possibilidade de o novo tratado incluir cooperação militar e de segurança, que foi excluída do tratado de amizade anterior. “Este será o evento mais importante”, completou ele ao The Korea Herald. Além disso, Lim destacou que a Rússia não teve escolha senão rever o seu tratado com a Coreia do Norte.

Ademais, tal revisão, visa uma concentração nos intercâmbios económicos, científicos e tecnológicos em 2000. Nesse ano, a Rússia tinha influência limitada na comunidade internacional e estava focada na sua própria recuperação no período pós-guerra. “O estatuto da Rússia evoluiu e a guerra na Ucrânia tornou-se um factor significativo. Dada a elevada importância da cooperação militar, há uma necessidade natural e crescente de renovar o tratado existente”, disse o professor.

Reforços em compromissos de Segurança e Cooperação

Jeh Sung-hoon, professor de estudos russos na Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros, em Seul, destacou a probabilidade de a Coreia do Norte e a Rússia reverem os artigos 2.º e 4.º do seu tratado de 2000. Os artigos referem-se respectivamente à resposta conjunta em caso de contingências e à unificação da Península Coreana. O Artigo 2 estipula que ambas as partes estabelecerão contacto imediatamente caso enfrentem a ameaça de invasão ou qualquer situação que ameace a paz e a estabilidade.

Sendo assim, o professor diz acreditar que esta cláusula poderia ser reforçada para melhorar os compromissos de segurança. “Não equivaleria a uma aliança ou a uma intervenção militar automática. Porém, há potencial para aumentar o seu significado simbólico e reforçar a sua substância até certo ponto.”, completou Jeh. Ademais, O Artigo 4º também confirma que o rápido fim da divisão da Península Coreana e a sua reunificação se alinham com os interesses de todos os coreanos e contribuem para a paz e a estabilidade na Ásia e no mundo.

Segundo Jeh Sung-hoon, a Coreia do Norte formalizou recentemente a sua posição de ver a Coreia do Sul como um país separado e hostil. Portanto, como resultado, os conteúdos relativos à unificação entre as duas Coreias serão provavelmente excluídos, uma vez que não se alinham com a situação actual e com as políticas norte-coreanas. Além do mais, sobre a assinatura do tratado há 24 anos, Jeh observou que o Presidente Putin visitou, durante um período marcado por relações inter-coreanas relativamente positivas.


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Pessoas assistem a um programa de notícias transmitindo uma imagem de arquivo de um lançamento de míssil pela Coreia do Norte. Reprodução/AP

Renovação Estratégica: Cooperação Coreia do Norte-Rússia

No entanto, Hyun Seung-soo, pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional, em Seul, financiado pelo governo, enfatizou: “O significado não reside necessariamente nas mudanças no conteúdo do tratado, mas sim no fato de que o tratado tem foi renovada”. Além disso, especialistas em Seul também partilharam a opinião de que a cimeira Putin-Kim abordaria o envio para a Rússia de trabalhadores norte-coreanos. A Rússia procura estes trabalhadores devido à escassez de recursos humanos no meio da dura guerra de anos na Ucrânia, apesar de ser uma violação da resolução 2397 do Conselho de Segurança da ONU.

Além disso, a cimeira discutiria o incentivo ao turismo norte-coreano, o que não contraria as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Sendo assim, Hyun sublinhou a importância simbólica de reforçar a cooperação turística entre os dois países: “A ativação do turismo bilateral entre a Rússia e a Coreia do Norte não só promove as viagens em si, mas também reflete a intenção da Rússia de retratar a Coreia do Norte como um Estado normal”, disse ele.


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Bandeiras da Rússia e da Coreia do Norte. Reprodução/Artem Geodakyan/Pool via REUTERS

Sobretudo, o pesquisador diz que ao impulsionar o turismo e melhorar as infra-estruturas relacionadas com a ajuda da Rússia, a Coreia do Norte pode apresentar-se como mais do que apenas um Estado focado no desenvolvimento nuclear e de mísseis. Dessa forma, melhorando assim a sua imagem internacional. No entanto, Hyun enfatizou que o cerne da primeira viagem de Putin a Pyongyang em 24 anos é a mensagem que a Rússia quer transmitir ao mundo e à Península Coreana neste momento crítico.

Reafirmando a Influência Russa e Redefinindo Alianças Estratégicas

De acordo com Hyun, a viagem de Putin à Coreia do Norte é inovadora e pretende alcançar um impacto significativo. Ademais, ao iniciar o seu quinto mandato como presidente e fortalecer a sua determinação de confrontar os Estados Unidos e o Ocidente, esta visita envia uma mensagem poderosa ao mundo. Hyun observou ainda que, a visita de Putin é vista como uma tentativa de restaurar e reconstruir a esfera de influência da Rússia. Sendo assim, restabelecendo alianças perdidas após a dissolução da União Soviética, como evidenciado pelas suas sucessivas viagens ao Vietname e à Coreia do Norte.

A visita de Putin à Coreia do Norte pretende demonstrar que a estratégia global e a diplomacia da Rússia mudaram. Dessa forma, enfatizando que a relação entre a Rússia e a Coreia do Norte é agora estratégica e de longo prazo. Portanto, deixando de ser meramente tática e de curto prazo.

Da mesma forma, a visita de Putin a Pyongyang, cuja pretende enviar uma mensagem aos EUA e aos seus aliados, incluindo a Coreia do Sul – um importante aliado do tratado dos EUA na Ásia – demonstrando solidariedade com a Coreia do Norte. “Um elemento crucial desta cooperação com a Coreia do Norte é transmitir uma mensagem de alerta à Coreia do Sul”, finalizou o pesquisador.

Diálogo Sul-Coreano e Chinês X Visita de Putin

Num notável desenvolvimento paralelo, o responsável presidencial sul-coreano enfatizou durante o briefing que o diálogo estratégico diplomático e de segurança 2+2 entre a Coreia do Sul e a China. Portanto, o diálogo terá lugar aproximadamente ao mesmo tempo que a viagem de Putin à Coreia do Norte. Além disso, fontes diplomáticas indicaram que Seul e Pequim estão a finalizar os preparativos para a realização da reunião em 18 de junho. A reunião, contará com a presença de vice-ministros dos Negócios Estrangeiros e altos funcionários da defesa, marcando a primeira conversa deste tipo em nove anos.

Anteriormente, realizadas a nível de diretor-geral em 2013 e 2015, as conversações foram recentemente elevadas ao nível vice-ministerial. Assim, na sequência de um acordo alcançado por Yoon e o primeiro-ministro Li Qiang durante a cimeira no final de maio. O responsável acrescentou que considerando todos estes elementos, garantirá que os principais aliados e parceiros estratégicos estejam em sintonia com a Coreia do Sul em assuntos relacionados com a Coreia do Norte.

Legenda destaque: O presidente russo Vladimir Putin (à direita) e o líder norte-coreano Kim Jong Un apertam as mãos. Reprodução/Sergei Initsky/Pool via REUTERS.

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