Diversos professores da Coreia do Sul estão desistindo de sua profissão, que não é valorizada e respeitada, para seguir outras carreiras
Muitos professores estão deixando as salas de aula para seguir outras carreiras. Os salários baixos e falta de respeito são motivos para os professores procurarem outras áreas de atuação.
Os educadores têm se matriculado em escolas preparatórias para se preparar para exames profissionais ou o Teste de Habilidade Acadêmica Universitária (CSAT) em busca de carreiras diferentes.
Um instrutor de matemática em uma escola preparatória em Daechi disse: “Recebo muitas ligações de professores atuais, perguntando se podem se preparar para o CSAT ou o Exame Nacional de Farmácia.” Daechi, que fica no distrito de Gangnam, sul de Seul, é conhecido por seu intenso fervor educacional.
“Alguns professores estudam novas disciplinas seletivas [ciências] no CSAT para ingressar na faculdade de medicina”, continuou.
“Esses esforços mostram o desejo firme deles de sair do ensino e começar algo novo”, acrescentou o instrutor. Bem como deu os exemplos de um ex-professor que tinha sete anos de experiência em dar aula e se matriculou em sua turma no ano passado.
Além de outro docente que tem quatro anos de experiência de ensino em Gyeonggi e está tentando entrar na faculdade de direito desde o ano passado. “Faço aulas de duas horas nos dias de semana para me preparar para o Teste de Elegibilidade para Educação Jurídica e estudo o dia todo nos fins de semana”, disse o professor.
Um funcionário de uma organização de professores afirmou que os que querem deixar a sala de aula formam grupos de estudo próprios para se ajudarem.
“Esses encontros estão se tornando comuns nos dias de hoje. Os membros do grupo de estudo buscam metas de carreira diferentes, incluindo empregos como medicina oriental e avaliadores públicos”, acrescentou o funcionário.
Um membro da indústria da educação falou sobre a saída dos professores das salas de aula e afirmou: “O fenômeno recente é um êxodo.”
Na Coreia do Sul, ser professor costumava ser um dos empregos mais desejados. É possível continuar atuando mesmo após dar à luz, além de ser mais fácil de tirar licenças. Somente os candidatos com as pontuações mais altas eram selecionados para lecionar nas faculdades de professores.
Porém, atualmente, a realidade já não é mais a mesma. De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Educacional da Coreia, apenas 43,2% de todos os professores do ensino fundamental no ano passado tinham entre 20 e 30 anos. Há uma década, a porcentagem de professores nesta faixa etária era de 53,9%.
As autoridades educacionais também diminuíram o número de novos professores convocados recentemente.
Assim como há um grande número de professores deixando as escolas. Segundo o Ministério da Educação, 589 professores deixaram o ensino entre março de 2022 e abril de 2023. Já entre 2021 e 2022, foram apenas 303 professores que saíram das escolas.
Os vídeos no YouTube que contam as histórias dos professores que desistiram do ensino estão em alta. Por exemplo, o vídeo “O motivo pelo qual um professor que ficou em 50º lugar no país pediu demissão após oito anos de ensino”, que teve 54 mil visualizações.
Assim como o vídeo “Motivos para abandonar a profissão de professor apesar de todo o trabalho árduo investido”, que tem mais de 410 mil visualizações.
Outro vídeo, de uma ex-professora que falou sobre sua história de sair de seu emprego, teve mais de 96 mil visualizações.
As empresas de consultoria privadas que ajudam os professores a buscar novas carreiras têm crescido bastante.
Algumas empresas fazem anúncios online dizendo: “Oferecemos serviços de consultoria especializados para professores que buscam carreiras alternativas.” Ao passo que aspirantes a professores têm escolhido outros caminhos de carreira além do ensino.
As faculdades de professores têm visto cada vez mais pessoas desistindo da área. Em 2023, 894 estudantes deram um tempo na faculdade. Em 2022, o número de trancamentos foi de 703. Já há uma década, apenas 439 discentes deram um tempo no curso.
Há dez anos, 156 alunos haviam sido expulsos ou abandonado os estudos, enquanto que em 2022, esse número foi de 370.
“Alguns amigos na faculdade estão se preparando para o CSAT novamente [para se especializarem em algo diferente], ou o exame de serviço público”, afirmou um estudante do terceiro ano na Universidade Nacional de Educação de Seul.
A saída dos jovens professores podem ser associadas a sistemas de recompensa inadequados e fatores sociais.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os professores recém-contratados em escolas públicas recebem um salário anual de 33,4 milhões de won (R$123.010), 2,74 milhões de won (R$10.092) a menos que média da OCDE.
O Ministério da Educação aumentou o pagamento extra mensal para professores tutores de 130.000 won (R$478) para 200.000 (R$736) em 2024.
Os professores tutores em escolas públicas recebem um adicional de 9.090 won (R$33) por dia, inferior ao salário mínimo por hora do país de 9.860 won (R$36).
Para um diretor de uma escola primária em Seul: “Parece que os professores estão exaustos devido à falta de pessoal.”
De acordo com Kim Yong-seo, chefe da Federação Coreana de Sindicatos de Professores, desde a pandemia de Covid-19, os professores têm lidado com mais trabalho administrativo. Com isso, os professores, dos jovens aos mais experientes, estão sobrecarregados.
“Reformas abrangentes devem preceder para que pessoas talentosas e competentes possam se tornar professores. A reforma apoiará os esforços do governo para impulsionar a profissionalização dos professores.”
Para ele, é necessário que os direitos dos professores sejam restaurados, para que a profissão volte a ser admirada e pessoas competentes possam se tornar professores.
Imagem em destaque: Sala de aula na Coreia do Sul. Reprodução/ Revista KoreaIN
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