Fãs obsessivos levam cantores a pedir medidas rigorosas
Invasão de privacidade e perseguição por parte dos “fãs” são exemplos do que muitos idols de K-pop enfrentam há décadas
Na Coreia do Sul, é comum que artistas relatem situações em que “fãs” invadiram sua privacidade. Apesar das políticas de tolerância zero adotadas pelas agências, essas invasões persistem. O problema é particularmente agudo para os idols de K-pop, que frequentemente são alvos de sasaengs, ou “fãs obsessivos”. Exemplos notáveis incluem o cantor Kim Jaejoong, dos grupos TVXQ e JYJ, e a banda CNBLUE, bem como os grupos ZEROBASEONE e Tomorrow X Together (TXT), entre muitos outros.
Sobre o assunto, Jaejoong disse: “É normal que esses ‘sasaeng fans’ entrem na minha casa, e já aconteceu de alguém ser pego no meu dormitório enquanto tentava me beijar enquanto eu dormia“, afirmou. Apesar da reação de choque de um idol mais novo ao ouvir o caso, essas situações são frequentes. Neste domingo (25), por exemplo, a banda CNBLUE anunciou na Weverse, comunidade de fãs, que no dia 21 de agosto houve um problema semelhante ao de Kim Jaejoong.
Um representante da agência da banda disse à Yonhap News: “Um fã em particular descobriu os lugares que um dos membros frequenta e o seguiu, além de tentar visitar sua casa, pedindo ao segurança para encontrá-lo, o que invadiu sua privacidade. Pedimos oficialmente que esse comportamento seja evitado, pois prejudica os vizinhos e a família do membro“. Na publicação, foi dito que: “qualquer comportamento que invada a privacidade dos artistas resultará em restrições de participação em todos os eventos, entre outras penalidades.”
Mais exemplos
Além desses casos, o grupo ZEROBASEONE é outro exemplo. No dia 20 de agosto de 2024, o grupo relatou à polícia que um fã obteve ilegalmente informações pessoais de um artista e tentou contatá-lo, além de tentar invadir sua residência. Já Taehyun, do Tomorrow X Together, publicou em suas redes sociais, em junho deste ano, que: “Quando estávamos voltando de um evento de autógrafos, alguém já havia reservado e trocado as refeições dos assentos dos membros no avião. Eu poderia simplesmente não comer, mas não consigo entender por que fazem isso.”
Devido a essas situações, a HYBE, agência do TXT, adotou uma posturas mais firme, denunciando à polícia o administrador de uma conta em uma rede social que obteve, de forma ilegal, informações sobre passagens aéreas de artistas, gerando lucros de bilhões de won. O aumento das atividades internacionais de idols de K-pop gerou ainda mais casos de invasão de privacidade em voos. Há casos de pessoas que compram informações ilegalmente para se aproximar dos artistas.
Casos antigos
Os casos de invasão de privacidade têm origem nos anos 1990, quando surgiram os grandes fandoms. Portanto, trata-se de um problema antigo no K-pop, que segue sem solução. No canal no YouTube de Kim Jaejoong, chamado Jae Friend, o idol comentou: “No passado, na época do H.O.T, as invasões eram feitas de forma analógica, com as pessoas simplesmente aparecendo sem aviso. Na nossa época, a situação ficou ainda pior, com a combinação de métodos analógicos e digitais.”
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Kim chegou a escrever uma música sobre o assunto. Em “Don’t” (2024), ele canta: “Não me ligue à noite, me sufoca, não venda meu número por dinheiro”, abordando a angústia causada por essas invasões. A indústria explica que o problema persiste porque as informações adquiridas ilegalmente são usadas para tirar fotos dos idols, que são então vendidas para os fãs, gerando lucro. Apesar da resposta das agências, é difícil identificar os responsáveis pelos crimes, já que a maioria atua online e apaga seus rastros.
Visão de especialistas
Um representante de uma agência de entretenimento disse: “Quando saímos para agendas internacionais, há pessoas que entram no avião ou invadem hotéis sem sequer fingir que é uma coincidência, apenas para tirar fotos dos artistas. Se não punirmos aqueles que compram e vendem informações, será difícil erradicar o problema de invasão de privacidade“, afirmou que é necessário punir esses criminosos para tentar acabar com esse problema.
Kwak Geum-joo, professora de psicologia da Universidade Nacional de Seul, afirmou: “Com o surgimento das redes sociais, ficou mais fácil para qualquer pessoa obter muitas informações, o que intensificou o desejo de possuir conteúdo exclusivo. Essa mentalidade tem levado ao surgimento de comportamentos anormais, como a invasão de privacidade dos artistas para obter lucros“.
Já Jung Deok-hyun, crítico de cultura pop, complementou a fala de Kwak dizendo que: “Os fãs estão começando a perceber que a invasão de privacidade dos artistas é um crime de perseguição. Eles estão pedindo para que não se refiram a esses invasores como fãs, e estão tentando mudar a cultura dos fãs“. O crítico acrescentou que alguns fãs já mudaram sua visão sobre o assunto e lutam contra aqueles que cometam esses crimes contra os idols.
Os especialistas afirmarem que esse comportamento dos fãs é uma consequência negativa do crescimento das redes sociais. Entretanto, diversos fãs já reconhecem as consequências causadas pela invasão de privacidade e estão concordando com a ideia de que “sasaengs não são fãs“, o que indica uma intenção de mudança por parte de algumas pessoas dos fandoms.
Foto destaque: fãs vendo e gravando seus ídolos. Reprodução/ Divulgação/ Roy Issa