Crítica: “Hierarquia” promete muito mas tem pouca execução
“Hierarquia” lembra que substância deve prevalecer sobre estilo, mas falha em satisfazer, deixando a desejar como drama
A expectativa ao assistir a um drama coreano como “Hierarquia” é alta, especialmente quando ele promete misturar elementos de mistério, vingança e romance em um ambiente escolar de prestígio. No entanto, enquanto alguns aspectos do show oferecem um vislumbre do potencial, a execução geral deixa muito a desejar. Neste artigo, exploramos as razões pelas quais “Hierarquia” falhou em cumprir suas promessas, apesar de sua premissa intrigante.
O drama se inicia com uma premissa intrigante: Kang Ha, um estudante transferido e bolsista, busca vingar a morte de seu irmão gêmeo e se envolve em uma rede complexa de relacionamentos e mistérios. No entanto, o enredo logo se mostra superficial e previsível. A tentativa de criar um mistério de assassinato é rapidamente ofuscada por reviravoltas que parecem mais clichês do que surpreendentes.
Um dos maiores problemas de “Hierarquia” é a falta de profundidade na construção dos personagens. Kang Ha, apesar de ser o protagonista, muitas vezes parece mais uma ferramenta narrativa do que um personagem completo. Jae Yi e Rian também são reduzidos a estereótipos de dramas adolescentes, sem motivações claras ou arcos de desenvolvimento. Esta falta de complexidade torna difícil para o público se conectar emocionalmente com os personagens e suas jornadas.
A influência de dramas adolescentes ocidentais como “Elite” é evidente, mas “Hierarquia” não consegue capturar a mesma profundidade e complexidade. Enquanto “Elite”, pelo menos equilibrava cenas eróticas e tramas intrigantes, “Hierarquia” carece de substância. As cenas prometidas de glamour e sedução são substituídas por uma narrativa rasa, onde o triângulo amoroso entre Kang Ha, Jae Yi e Rian domina sem oferecer um desenvolvimento significativo dos personagens.
Direção e produção desalinhadas
A direção de Bae Hyeong-jin, conhecido por seu trabalho em “Alquimia das Almas (2022)”, prometia uma produção luxuosa e envolvente. E, de fato, a qualidade visual de “Hierarquia” é inegável. A ambientação e os cenários refletem a opulência e a divisão entre ricos e pobres de maneira eficaz. No entanto, a beleza visual não compensa a narrativa fraca e a falta de coesão no enredo.
O roteiro de Chu Hye-mi, de “Questão de Tempo (2018)”, tenta inovar com uma estrutura não linear, mas falha em manter o interesse do público. Os saltos temporais e a falta de clareza na narrativa confundem mais do que intrigam, resultando em uma experiência de visualização fragmentada. Em vez de adicionar camadas de mistério, o roteiro acaba diluindo a tensão e tornando a trama desarticulada.
Química e Performances
Um dos poucos pontos positivos de “Hierarquia” são as performances dos atores principais. Lee Chae-min (Kang Ha) e Roh Jeong-eui (Jung Jae I) apresentam uma química palpável que mantém o público investido, pelo menos superficialmente. A dinâmica entre os personagens de Roh Jeong-eui (Jung Jae I) e Kim Jae-won (Kim Ri An), apesar de clichê, traz momentos de tensão e romance que são bem-vindos. No entanto, estas faíscas de talento não são suficientes para salvar a narrativa fraca e o desenvolvimento inconsistente dos personagens.
A falta de desenvolvimento do personagem Ri-an é particularmente frustrante. Kim Jae-won, um ator talentoso, é subutilizado em um papel que poderia ter oferecido muito mais profundidade e complexidade. A exploração superficial de seus conflitos internos e motivações resulta em uma performance que, apesar de competente, não tem o impacto emocional que poderia ter.
Um potencial desperdiçado
“Hierarquia” tinha todos os ingredientes para ser um sucesso: um cenário intrigante, um elenco talentoso e uma premissa que prometia mistério e drama. No entanto, a falta de um enredo coeso, personagens bem desenvolvidos e uma direção alinhada com o roteiro resultam em uma série que é, no melhor dos casos, uma decepção visualmente atraente.
Para que dramas como “Hierarquia” realmente se destaquem, é essencial que os criadores invistam em histórias que ofereçam mais do que apenas a estética superficial. O público atual procura narrativas complexas, personagens com os quais possam se relacionar e reviravoltas que desafiem suas expectativas. Sem esses elementos, mesmo as produções mais luxuosas não passam de promessas vazias.
Em resumo, “Hierarquia” serve como um lembrete de que a substância sempre deve prevalecer sobre o estilo. A série, apesar de seu potencial, falha em entregar uma experiência satisfatória e deixa os espectadores desejando por um drama que realmente valha a pena assistir.
Foto destaque: Pôster oficial de Hierarquia. Reprodução/Netflix