Coreanos relutam em contratar trabalhadores domésticos estrangeiros
Apesar dos esforços do governo, muitos sul-coreanos permanecem hesitantes em empregar trabalhadores domésticos estrangeiros
O governo sul-coreano está flexibilizando as regulamentações de visto para trabalhadores domésticos migrantes, visando enfrentar a baixa taxa de fertilidade e o envelhecimento acelerado da sociedade. Contudo, apesar dessas iniciativas, muitos sul-coreanos permanecem hesitantes à ideia de contratar estrangeiros, mencionando custos elevados e dificuldades linguísticas como principais preocupações.
Em colaboração com o Governo Metropolitano de Seul, o governo planeja lançar um programa este ano para introduzir babás e empregadas domésticas das Filipinas. Como parte desse plano, a Coreia abrirá suas portas para cem trabalhadoras domésticas filipinas em um período experimental de seis meses. Elas receberão o salário mínimo coreano, que é de cerca de 2 milhões de won por mês (aproximadamente R$7.400,00). Tal valor supera os salários típicos em Cingapura e Hong Kong, por exemplo.
Juntamente ao governo, economistas e potenciais usuários dos serviços concordam que os trabalhadores domésticos estrangeiros poderiam ajudar a resolver a escassez de cuidadores. Todavia, alguns sul-coreanos ainda estão preocupados com os riscos de contrata-los, cujos antecedentes podem ser difíceis de verificar. Ainda mais, eles questionam se os benefícios superam os custos atuais.
Relatos de coreanos
“Seria um grande encargo financeiro se mais de metade do nosso rendimento mensal fosse gasto com um cuidador”, disse uma dona de casa de 34 anos e mãe de uma criança de cinco anos. “Eu só consideraria contratar um trabalhador doméstico migrante se a despesa fosse inferior a 2 milhões de won.” “Pessoalmente, penso que o salário mínimo só deveria ser aplicado a cidadãos coreanos”, disse uma trabalhadora de 36 anos, mãe de um filho de cinco anos.
“Não estou disposta a contratar uma trabalhadora doméstica estrangeira”, afirmou Kim Young-seo, de 31 anos, mãe de uma criança de 2 anos. “Se eu precisar de uma babá, prefiro pagar mais para contratar uma babá coreana porque estou preocupado com o lento desenvolvimento da linguagem e com os impactos das diferenças culturais que a babá estrangeira pode ter sobre meu filho.”
Já outros se incomodam com a perspectiva de contratar trabalhadores domésticos, considerando que isso implica ter um estrangeiro morando em sua casa. “Para mim, não seria minha preferência ter uma empregada doméstica vivendo em casa, pois dividir o mesmo espaço em um apartamento seria desconfortável”, disse uma bancária de 32 anos em licença maternidade. Ela acrescentou que não consideraria contratar uma babá que residisse com ela, a menos que fosse anglo-saxônica e pudesse auxiliar seus filhos a aprende inglês.
De acordo com Lee Jeong-hwan, professor associado da Faculdade de Economia e Finanças da Universidade de Hanyang, considerando a vantagem que os trabalhadores domésticos coreanos têm sobre os estrangeiros em termos de língua e cultura, eles continuarão a receber um rendimento mais elevado. Contudo, uma queda geral nos pagamentos dos trabalhadores domésticos devido ao influxo de trabalhadores estrangeiros também poderia reduzir os salários dos trabalhadores coreanos.
A escassez de trabalhadores domésticos
Um recente relatório do Banco da Coreia (BOK) apresentou duas propostas para resolver a escassez de cuidadores na Coreia, o que desencadeou em um debate sobre a aceitação dos trabalhadores migrantes no país. Segundo dados do BOK, o país enfrentou uma escassez de 190.000 prestadores de serviços de cuidados em 2022. Além disso, as projeções eram de aumentar para entre 610.000 e 1,55 milhões até 2042. Isso poderia reduzir o PIB em cerca de 2,1 a 3,6 por cento.
Uma das propostas sugeridas pelo BOK era permitir que as famílias contratassem diretamente trabalhadores estrangeiros, sem a necessidade de pagar um salário mínimo. Esse sistema, semelhante aos adotados em Hong Kong (1973), Singapura (1978) e Taiwan (1992), visava atrair mais mulheres para o mercado de trabalho.
Por outro lado, a proposta de aplicar um salário mínimo diferenciado ao setor de serviços de assistência também gerou controvérsia, sendo considerada por alguns ativistas cívicos como “racista e desumana”. Por isso, membros de sindicatos protestaram contra as propostas, argumentando que os trabalhadores domésticos migrantes enfrentam tratamento desigual e leis discriminatórias. “A proposta é racista e agrava o ambiente de trabalho dos prestadores de cuidados”, afirmaram membros do Sindicato Coreano dos Trabalhadores do Serviço Público e dos Transportes, num protesto realizado em 13 de março, em Seul.
Assim, reconhecendo os desafios de suas propostas, o BOK destacou a dificuldade na gestão e supervisão dos contratos ao permitir que os empregadores contratem diretamente trabalhadores domésticos estrangeiros.
Foto destaque: Ativistas cívicos protestam contra relatório do Banco da Coreia que sugere pagar aos cuidadores estrangeiros menos do que o salário mínimo. Reprodução / Korea Times / Shim Hyun-chul