A conferência ‘K-Pop: Produção Musical e Consumo‘ reuniu acadêmicos e profissionais para discutir fandoms, cultura e os rumos do gênero
A Universidade de Yale, em Connecticut – Estados Unidos, sediou uma conferência de dois dias para explorar as complexidades culturais, sociais e econômicas do K-pop. O evento, realizado sob o tema “K-Pop: Produção Musical e Consumo”, contou com a participação de acadêmicos das ciências sociais e humanas e de profissionais da indústria. Os debates abordaram tópicos como a evolução musical do gênero, as dinâmicas de seus fandoms globais e sua crescente influência no mercado internacional.
Ao longo de quatro sessões, 16 palestrantes aprofundaram-se em questões que vão além da música e coreografia, examinando o K-pop como um fenômeno cultural global. Um dos principais pontos discutidos foi a mudança nas dinâmicas de poder entre fãs coreanos e internacionais, influenciada pela crescente participação econômica dos fãs de outros países. Mathieu Berbiguier, professor visitante na Universidade Carnegie Mellon, explicou como a capacidade de fãs ocidentais comprarem álbuns, mercadorias e ingressos para shows a partir de 2016 alterou o equilíbrio de forças dentro dos fandoms.
O caso de Seunghan, ex-integrante do grupo Riize, foi citado como exemplo. Após o vazamento de imagens pessoais, fãs coreanos exigiram sua saída do grupo, enquanto fãs internacionais defenderam sua privacidade e direitos trabalhistas. Berbiguier destacou que o aumento do investimento financeiro global trouxe um novo peso às opiniões desses fãs. Apesar da tentativa inicial de reintegrá-lo, a pressão doméstica foi determinante, e a SM Entertainment optou por lançar Seunghan como artista solo em 2024.
Outro ponto de destaque foi a relação entre a cultura de protestos das fãs coreanas e o feminismo. Stephanie Choi, pesquisadora na Universidade Estadual de Nova York em Buffalo, argumentou que esses movimentos frequentemente refletem questões mais amplas sobre gênero e igualdade na Coreia do Sul. O caso de Seunghan também ilustra essa tensão, já que muitas fãs coreanas criticaram a perda de valor da imagem do artista, enquanto fãs internacionais viam as expectativas impostas aos ídolos como violações de direitos trabalhistas. A influência econômica das fãs coreanas, que representam cerca de 70% da receita das empresas de entretenimento, continua sendo crucial para a tomada de decisões na indústria.
Além das questões relacionadas aos fandoms, a conferência também abordou o K-pop como expressão artística. Kim Sun-hong, doutoranda em etnomusicologia, argumentou que o gênero pode ir além da coreografia e se consolidar como uma forma musical inovadora. Ela citou “Daechwita”, de Suga, como exemplo de integração de elementos tradicionais coreanos em uma narrativa contemporânea. Kim sugeriu que explorar projetos menos comerciais pode ampliar o reconhecimento do K-pop como arte, sem comprometer sua essência melódica.
A influência do J-pop também foi tema de debate. Kim Sung-min, professor de mídia e comunicação, explicou como elementos do J-pop moldaram os primeiros grupos de K-pop, como H.O.T. e Shinhwa, tanto em suas performances quanto em suas produções visuais. Ele destacou que, apesar dessas influências marcantes, o K-pop desenvolveu uma identidade própria, equilibrando visuais ousados, temas sociais profundos e um estilo musical único.
Os debates realizados em Yale reforçaram que o K-pop transcende a música e o entretenimento, funcionando como um reflexo vibrante e dinâmico da cultura coreana. Sua capacidade de inovação, aliada à busca por autenticidade, sustenta seu apelo global e assegura seu lugar como um fenômeno cultural único e transformador. Ao conectar tradição e modernidade local e global, o K-pop se mantém relevante, adaptável e profundamente impactante em todo o mundo.
Foto Destaque: Campus da Universidade de Yale. Reprodução/Universidade de Yale
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