Casais sul-coreanos têm enfrentado duras realidades econômicas e mais casais coreanos estão dizendo ‘eu não’ para o casamento
O casamento se tornou um “item” de luxo para muitos jovens casais coreanos. Devido à insegurança financeira que muitos jovens enfrentam no país atualmente, o sonho de casar se tornou um desafio.
As pessoas financeiramente inseguras têm evitado o casamento, enquanto pessoas economicamente estáveis estão se unindo, elevando o nível de renda médio dos recém-casados.
O fator decisivo no mercado matrimonial contemporâneo, superando elementos anteriores, como a aprovação dos sogros e a compatibilidade pessoal, é o financeiro.
Em 2022, 41,8% de todos os recém-casados em seu primeiro ano de casamento tinham uma renda anual superior a 70 milhões de wons (R$ 262.391,83). Em 2015, apenas 23,2% dos lares recém-casados o tiveram. Ou seja, o percentual quase dobrou em apenas sete anos.
No mesmo período, o percentual de casais recém-casados que ganham mais de 100 milhões de wons (R$ 374.817,14) por ano subiu de 7,8% para 18,8%. Além disso, o percentual de recém-casados bem remunerados está crescendo em comparação com o total de domicílios também.
Esses dados demonstram que casais não casados em faixas de renda mais baixas foram desencorajados a se unir em matrimônio.

As estatísticas
Um total de 303 mil casais se casaram em 2015 e 193 mil em 2021, enquanto as autoridades estimam que 190 mil casais se casaram no ano passado. Conforme o Instituto de Estatística da Coreia, não apenas o total de casamentos no país diminuiu, mas o nível de renda médio dos recém-casados aumentou drasticamente.
Em uma comunidade online de dicas matrimoniais, 36 postagens buscaram conselhos para romper noivados nos últimos dois meses. Dentre elas, 16 — 44,4% — estavam relacionadas a questões financeiras.
De acordo com uma pesquisa da Duo Information — a maior empresa de casamentos do país — coreanos solteiros entre 25 e 39 anos disseram que a renda anual ideal do marido deveria ser de cerca de 60 milhões de wons, e a da esposa deveria ser de 43 milhões de wons. No entanto, essas expectativas entram em conflito com as duras realidades econômicas.
De acordo com o Instituto de Estatística da Coreia, a renda anual média dos homens solteiros em seus 30 anos é de cerca de 39 milhões de wons; para as mulheres, é de 33 milhões de wons.
Outro fator importante se refere à compra de imóveis condicionada ao casamento. Atualmente, os recém-casados têm dado preferência à compra de imóveis de tamanho médio ou grande após o casamento. Contudo, o aumento no preço desses tipos de imóveis dobrou de valor nos últimos anos, segundo o Instituto de Estatística da Coreia. Isso se deu principalmente na capital do país, Seul.
Nesse sentido, os rendimentos dos casais não conseguem acompanhar o aumento vertiginoso dos preços dos imóveis hoje em dia.

Os relatos
Usuários de sites e fóruns na internet têm publicado relatos acerca da situação que vem atingindo uma grande parte da população de jovens casais sul-coreanos. Um deles é Cha, de 33 anos, que terminou um relacionamento de 5 anos com sua namorada este ano. Entre os motivos do término, ele relata que com frequência havia brigas acerca de como pagar por uma casa na área metropolitana de Seul.
“Minha ex-namorada e eu perdemos a confiança em nosso relacionamento porque nossa renda anual era de cerca de 60 milhões de wons, o que não era suficiente para pagar um apartamento jeonse [um contrato de depósito em uma quantia fixa] e os juros do empréstimo habitacional”, disse Cha. “Estávamos emocionalmente esgotados após inúmeras discussões acaloradas sobre dinheiro.”
“Estamos ponderando se devemos nos casar porque está além de nossa capacidade mudar para um apartamento com nossa renda atual. Vivemos juntos em um pequeno apartamento pagando 800 mil wons (R$ 2.993,43) de aluguel mensal”, escreveu o outro usuário da internet.
A natalidade
A problemática da moradia causada pela insegurança financeira também se torna um agravante na natalidade no país. Na Coreia, a maioria dos casais tem filhos após se casar, o que torna o casamento uma condição prévia para os nascimentos. Nesse sentido, a diminuição dos casamentos pode ser uma causa fundamental da queda da taxa de natalidade do país.
Especialistas afirmam que estabilizar o ambiente habitacional para os recém-casados deve vir antes de resolver a crise de natalidade. “As pessoas com rendimentos mais baixos não conseguem acompanhar o aumento dos preços dos imóveis, o que as faz adiar ou desistir do casamento”, disse Ma Kang-rae, professor de planejamento urbano e economia da Universidade Chung-Ang.
Mais do que um luxo, os casamentos sul-coreanos são um reflexo das questões sociais que vêm impactando de forma negativa a qualidade de vida da população do país.
Foto destaque: sessão de fotos de casamento. Reprodução/The Bride Studio